Friday, January 7, 2011

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Manhã. Frio.

De Segunda a Sexta . Todos os dias .

Sempre.

Responsabilidade e um ordenado .

O ordenado paga a renda, a renda paga a casa.

A casa paga as frustações de quem nunca se tornou naquilo que queria .

Manhã. Frio.

Uma viagem e um comboio .

Cheio de filhos da puta. Cada um com o seu destino.

Filhos da puta como eu.

Esperando,de quatro, que a vida traga algo de novo .

Rabos de banco e meio,

barbas,

perfumes diferentes,

sorrisos, poucos .

Mulheres com péssimo gosto para sapatos .

Guarda-chuvas,

casacos velhos,

pedreiros,

hospedeiras,

bancários,

a mãe que tem um filho em frança.

“Foi a vida que quis assim “ .

Sono,

comprimidos,

problemas,

maus hálitos,

a gravata que combina com a camisa,

e a mulher que já não combina com o marido, mas que por sorte se suportam .

A senhora carregada com os sacos de plástico,

e o senhor, de coração fraco, que deixou cair os olhos no decote da menina.

Ela ri-se. Gosta disso .

O namorado menos .

De manhã começa o dia .

Os queixumes,

o filho que estuda pouco,

a filha que namora muito,

o triste fado,

as saias aos quadrados,

o solteiro,

o casado,

o divorciado de fresco,

o adolescente apaixonado que não tira os olhos no telefone .

E a cabeça da lua .

Homens com péssimo gosto para bigodes .

Compromissos,

agendas,

lancheiras com filetes .

O rio ficou para trás.

Assim como a casa na praia ou as aulas de piano .

“Se eu pudesse voltar atrás...” .

Nunca voltam .

A senhora, que há um ano era menina, carrega hoje nos braços a benção que outrora julgou ser castigo .

E eu a fazer-me um deles, como se tudo aquilo me fizesse sentido.

Amanhã já não venho .

Se perguntarem por mim ?



Estarei de volta aos teus braços .