Monday, April 26, 2010


Diz-lhe que gostas dela.
Diz-lhe logo. Deixa-te de merdas.
De palavras meias, e desses truques todos em que já ninguém acredita.
Diz-lhe tudo.
Diz-lhe que estás diferente.
Que o mundo mudou e tu foste mudando com ele.
Conta-lhe das viagens e dos sonhos que foste realizando.
Do armário cheio de histórias, e de todos os planos que foste fazendo em silêncio.
Conta-lhe dos anéis, das flores já mortas e das cartas.
Dos desejos que ao longo deste tempo tens deitado ao lixo.
Chega de palavras.
De encontros falhados e cobardias.
Não a deixes fugir de novo, agarra-a pelo braço.
Grita-lhe aos ouvidos, pede-lhe que te oiça por um segundo.
E se for um estalo o que recebes, dá o teu pior lado.
O outro tem de estar perfeito para os seus beijos.
Não esperes a noite perfeita, a hora em ponto para lhe dizeres o que sente.
Esquece o brilho dos sapatos, o sorriso de plástico.
As mentiras ao espelho. Diz-lhe hoje, amanhã e enquanto for preciso.
Fá-la sentir especial todos os dias.
E um dia terás o teu segundo.
Podes contar-lhe das viagens e do armário cheio de histórias.
E de como te dói o rosto de todos aqueles estalos.
Ela vai sorrir.




E dizer que gosta de ti.

Monday, April 19, 2010

00:01


Quiseram que ela fosse como todos os outros.
Serena, decidida.
Cheia de objectivos por cumprir.
Escolheram-lhe os vestidos, e os sapatos.
Deram-lhe um nome, e um propósito.
Um lugar onde chegar a horas.
Sempre.
Chamavam-lhe destino.
Ela, tinha vontades outras.
Ria-se de todas aquelas regras e frases feitas.
Achava tudo aquilo ridículo.
Chegava sempre tarde.
Nunca quis os vestidos nem os sapatos.
Vestia-se das nuvens que avistava da janela do quarto.
E era aí que passava todo o seu tempo.
Um tempo que como o nosso, foi passando.
Estava na hora.
As janelas estavam mais abertas do que nunca.
Dos vestidos e dos sapatos fez-se fogo.
Comprou uma corda e um velho livro de poemas.
E recitou-os, um por um, em frente ao espelho.
Serena, decidida.
Mas sem objectivos por cumprir.
Da corda se fez um colar.
E do fogo fez-se mais fogo .
Por todo o quarto .
Dizem que se foi para sempre e que por cá, deixou apenas cinzas.
E nuvens a passar em frente ao quarto .
Eu, guardo ainda hoje o bilhete que me deixou.





" Só se cortam as asas, a quem voa rente ao chão".