Monday, June 4, 2012

Os dias todos



"Ninguém quer ser feliz pelos motivos certos", disseram-me uma vez e nunca mais deixei de pensar nisso.
Há no desejo de ser feliz, uma ideia de utopia e perfeição, que nos devia aborrecer.
A procura pelo encaixe.
Uma paixão metódica.
Amar, claro, mas de forma ponderada.
Com planos. Com contas.
Poupar para gastar bem.
Nunca entendi a relação entre o compromisso e esta obsessão em estar sempre certo.
Quando casamos, queremos automaticamente deixar de ser estúpidos.
Erramos menos. Compramos montes de polos.
Falamos de contas. Spreads.
Um estranho pacto com a lógica.
"Isso era dantes". "Tudo tem o seu tempo".
Dizem que a paixão só dura 6 meses. Como 6 meses?
Claro que não dura 6 meses. Não pode durar 6 meses.
Quem quer, tem de querer sempre. Tentar todos os dias.
Criar. Recriar. Fazer por isso.
Sorrir todos os dias, e nos dias em que não tivermos motivos para fazê-lo, choramos os dois. Mandamos juntos foder o universo.
Esperaremos por um amanhã menos mau.
Roubar a mangueira ao vizinho.
Chegar a casa às 6h.
Vazar o Porto que o teu pai guardou para o baptizado do Gonçalo.
Não baptizar o Gonçalo.
Estar estúpido.
Estar vivo.
Deixar os miúdos a dormir na tia hoje.
Ter menos reuniões.
Estar mais presente.
Ninguém quer ser feliz pelos motivos certos, porque esses nunca tos entregam em mãos.
Há na procura da felicidade um desejo estúpido de conforto.
De facilidade.
"Já tem a vida orientada".
Foda-se para as orientações, ninguém disse que isto ia ser fácil.
Que os spreads não sobem.
Que os putos não iam ter insónias.
Que todas as portas começam fechadas.
Ninguém quer ser feliz pelos motivos certos.
Mas há formas bem diferentes de se estar errado.