Monday, November 14, 2011

Ana Rita Clara



É estranhamente confortável escrever sobre Ana Rita Clara.
Escrever sobre Ana Rita Clara é escrever sobre todos nós, os que nunca tivemos uma.
Voltar atrás no tempo. Relembrar tudo.
As borbulhas.Os fracassos todos.
Escrever sobre Ana Rita Clara é escrever sobre mim próprio. Sobre as
cartas de amor que foram ficando no meu bolso.
Escrever sobre Ana Rita Clara é perverso, mas carinhosamente
ternurento.
Quase romântico.
Ana Rita Clara é tudo ao mesmo tempo.
Ana. Rita. Clara. Três maldições numa.
Qualquer uma capaz de nos partir a vida ao meio. Um erro tremendo.
Uma estúpida noção de perfeição.
Ana Rita Clara é a melhor das mortes. Serve-se com Bourbougne.
Minuto e meio de Van Morrison.
Não antecipes o refrão. Espera que o faça, e acompanha-a.
Ana Rita Clara é a miúda do banco da frente.
O sorriso de menina que não deveria ter um dono.
Os olhos pequenos. Perfeitos.
O melhor dos fins.
Escrever sobre Ana Rita Clara é perverso, mas carinhosamente ridículo.
Quase patético.
Uma estúpida noção de infantilidade.
Não querer crescer nunca.
Ana Rita Clara é o melhor dos destinos. Serve-se com a sorte necessária.
Minuto e meio já seria perfeito.
Não antecipes nada. Espera que esteja distraída e quem sabe tenhas sorte.
Oferece-lhe os teus apontamentos.
Volta atrás no tempo. Relembra tudo.
Chama-lhe Ana. Rita. Clara.
Diz-lhe que é tudo ao mesmo tempo.
Que o seu sorriso não deveria ter um dono.

E que é estranhamente confortável escrever sobre isso.