Tuesday, November 8, 2011

10-2011



Não há nada em Rita que Mário desconheça.
Conheceram-se novos. Cresceram juntos.
Partilharam.
Não há nada em Rita que Mário desconheça.
Os seus gostos. Os seus medos.
O prato favorito. As paranóias todas.
Rita é uma pessimista. Trabalha muito. Queixa-se ainda mais.
Acha que o mundo vai rebentar. Que tudo é injusto.
Que assim, seja o assim o que for, as coisas não vão para a frente.
Mário ri-se disso. Não há nada em Rita que Mário não suporte.
Diz-lhe que não se preocupe. Que podia ser pior.
Não há nada em Rita que Mário desconheça.
As datas importantes. A alergia a marisco.
O péssimo gosto para acessórios.
-“Viste os meus brincos?”
-“Não, não...”
Conheceram-se novos. Cresceram juntos.
Descobriram-se. Ensinaram-se.
Separam-se.
Mário precisou de tempo. Rita quis conhecer Londres.
Conheceram. Cresceram.
Descobriram. Aprenderam.
Reencontraram-se.
Rita é uma realista. Trabalha menos. Disfruta mais.
Acha que só se vive uma vez. Que tudo tem o seu tempo.
Que o futuro, aconteça o que acontecer, vai ser futuro.
Mário ri-se. Diz-lhe que a quer muito. Embora tenha pouco tempo.
Mário é ocupado. Viaja muito. Dedica-se cada dia mais.
Gostava que o dia tivesse mais horas.
Rita não se importa.
Não há nada em Mário que não suporte.
Diz-lhe que não se preocupe. Que vai esperá-lo sempre.
E que lhe devolva os brincos que escondeu.