Sempre odiei tecnologias. E odeio-as pela mesma razão pela qual odeio mulheres mais bonitas e inteligentes do que eu.
Mais tempo, menos tempo, somos sempre ultrapassados.(Odeio-as sobretudo nestas alturas, porque nas outras a coisa até é bem suportável).
Sempre me dei melhor com os papeis e com as telas, do que com qualquer objecto cuja função dependa de um On/Off. Ao saber que teria de ter a cadeira de fotografia( E o verbo não é aqui colocado ao acaso), cedo percebi que a estrada seria estreita e acidentada, e que muito provavelmente iria tombar pelo caminho.
Em vinte e dois anos de vida, sempre que me juntei com outras pessoas dentro de salas estreitas e escuras, com químicos envolvidos, a coisa nunca correu bem.
A cada cigarro aceso em curtas pausas de trabalho algum, ia pensando sobre a melhor forma de capturar a realidade. Ângulo, luz, sombra, e tantas outras terminologias que se me pedirem para relacionar com a técnica fotográfica dificilmente o saberei , foram-me “atafolhando” o subconsciente, que diga-se, de muita tralha vai estando farto.
Mas como capturar a realidade, se tudo o que defendo artisticamente é a distorção da mesma ?
Como reproduzir o que os olhos vêm, quanto tantas vezes os cerrei, esperando que o que penso ou sinto, me traga algo diferente, e mais belo?
É estranho...
A estas incógnitas junta-se a ideia, confirmada por dezenas de vezes por familiares,amigos,mestres,professores,patrões e afins, de que nem sempre o meu caminho entre o "quero fazer isto", e o acto de fazer em si, é um caminho recto. Normalmente existem atalhos. E normalmente terminam em lugar nenhum.
E depois há o revelador,o fixador, o banho de paragem, o obturador, o fotómetro, o cheiro a ontem das toalhas, o calor, o sono, o hálito( meu, e dos demais) denunciando as horas de escuro perdidas, sem nada dar ao estômago para que se cale.
E o papel tão mariquinhas que com um pouco de luz a mais se queima, "precisa de filtro!" ,dizem os sábios.
Estou farto de erros.Dos meus, e dos vossos.
E os deles, que nos roubaram fotos!
Entre os muito escuros e os muito claros que vou parindo, percebo que de facto os meus talentos, caso existam, estão decerto destinados a outras câmaras menos escuras. E quando a meio do processo, percebemos que desengordurante não é sunquick, já as fotos parecem "Dalis" e "Pollocks", a que nem as molas se pegam.
Nem mil cachimbadas de vapor egípsio salvariam o professor da árdua tarefa de me avaliar as obras primas.
-“Pá meu, isto é uma porcaria” .
É de facto, e o mais estúpido de tudo isso é que ainda me rio disso mesmo, e com “disso mesmo” quero mesmo dizer, de mim. Quando 50% da tarefa está (mal) cumprida, julgamos tudo mais fácil, com três simples letras, que juntas entre pontos, são responsáveis por muitos quilómetros de distância entre jovens e cultura.
U.S.B .
Mas nem isso me ajuda. O problema de interpretação fragmentada do que me rodeia mantém-se, a facilidade de manuseamento com tudo o que implique On\Off também. Juntam-se as vontades no peito, e engolem-se todos os palavrões apetecíveis a cada fotografia mal medida. Os barcos perdem a proa, as senhoras do mercado a cabeça, e nem os dois polícias gordos rogando pragas a Cavaco e á crise, se livram de um ligeiro mutilar dos seus membros inferiores.
E quando se tiram setenta e seis fotos num raio de quilómetro e meio, e se chega a casa ansioso por ver o resultado daquele tempo lançado ao lixo, percebemos que” U.S.B” sem computador nem “U” pode ser, o computador esse está sem bateria.
E o carregador ficou no mercado.
O das senhoras sem cabeça.