Sunday, March 30, 2008

Étrange cadeau



É, e será sempre a dor mais puta.
Será como falar de mim próprio.Ferro na carne.Hoje,e sempre.
Sobre mim só tenho perguntas.
Há veneno no que penso,há dor no que escrevo...
Esta eterna luxúria que me deixa quase morto.
Que artista sou eu, se não mais do que este mundo sei pintar.Não me vejo,não me escuto...nem vivo me sinto.
Que mão esta que por mim escreve.
Não sei se estou louco, ou se o mundo elouqueceu.
Tenho medo que a mão pare, que a fonte seque.Por mais que tente, não escrevo quando quero.
Apelo aos deuses, e a mim próprio.Rasgam-se letras e morde-se a própria pele...a folha, a branco dorme.
E só.
Escrever é como amar, "nasce de quase nada e morre de quase tudo".
Escrevemos pra sermos lidos...por nós e pelo outro.Mesmo no mais profundo dos caixotes, queremos o nosso texto perfeito.
Como leitor estou morto.Morro com os livros.
Por mais que existam,dou por mim buscando outros, outra capas,outro cheiro,outras histórias...
Como escritor sou uma merda.Jamais terei palavras para sentimentos de outros,
vivências alheias,dores próximas...nos meus textos estarei sempre eu.
Sem forças para fugir.
Sento-me entre os próprios versos, e vasculho algo novo de onde possa partir.
É como a parte escura por baixo da cama,esticamos o braço sabendo sempre que encontraremos algo.
Sou discrente em estado puro,vagabundo das próprias ideias...Sinto como se me traísse a mim próprio pela forma como o que escrevo me expõe.
Crio a crú.Sem regras ou limites.Serei erro de escrita,porque sou erro de alma.
Não adiantam rascunhos,ensaios...são palavras lançadas ao fogo.

Escrevo hoje, porque alguém escreveu por mim. Amanhã espero estar louco.




Porque são, não escrevo assim.










*

Tuesday, March 18, 2008

Doce dor




Gosto de mulheres.
As mulheres são como os sonhos...nunca são como as queremos.
Nunca.
Tornam-nos outros...caminhamos de outra forma, falamos de outra forma, mudamos de perfume,de sotaque...tornamo-nos deuses,heróis,contadores de 1001 histórias...que não as nossas.
Gritamos mais alto que nós próprios para que reparem...para que saibam que ali estamos.
Amamos mulheres mais e menos bonitas...se a beleza constituísse o único mérito das mulheres, ás feias só lhes restaria o suicídio.
Para o mal de muitos o amor é cego.Eu não.
A mulher bonita é a mulher do homem. Que se elucidem os corpos e as mentes...o belo existe, e nós gostamos dele.É a mulher bela que nos faz tropeçar as pernas, a menos bela poderá fazê-lo, mas com o dobro do trabalho.
Adoro a forma como mentem, e como não o fazem. Preferirei até não saber o que é o quê.
Há nas suas confissões uma réstia de silêncio...do seu mundo não teremos mais do que isso. Tomaremos a sua verdade como a nossa...ou morreremos loucos.
Que se enganem os machistas sobre quem manda em quem. São arquitectas de alma, estrategas da sua própria vida. Lançam os dados esperando que tudo bata certo.É uma roleta...amas, morres...amas e morres, amas ou morres...
Quem não amou nunca, já nasceu morto.
Aquele que amou loucamente a mulher que teve, saberá mais de amor do que o que teve mil.
Escreve isto o próprio corpo, e as marcas que nele passeiam. São as regras do jogo.
Que se enganem os conformados, que se despertem os menos lúcidos...a mulher sempre esconderá aquilo que realmente deseja.
Que se quebrem as alianças,que se encarem os desejos, que se destapem os medos...
O corpo toca-nos o espírito...o veneno aquece a alma.
E a mulher dormita nua...




“Quando a menina se torna mulher...o homem torna-se menino”.




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Saturday, March 8, 2008

Hoje




Não há medo maior que possa sentir quem escreve sobre a morte, que a ideia que todo o texto pode ser o último.
A morte é uma puta. A vida também.
A escolha entre ambas mais do que utópica,é efémera.
A morte espera-se, a vida gasta-se.E ha muita vida por estrear.
Gastamos vida a falar de vida.Da nossa...e não só.
Julgamo-nos Deus,senhores de opinião,e gastamos minutos dos nossos... a descrever os de outros...
Falamos porque falamos, não porque gostemos de o fazer, mas por não sabermos fazer mais nada.Julgamo-nos perfeitos saboreadores do paladar da vida,quando na verdade ela nos sabe a pouco.Enchemos o peito de ar e mentimos a nós mesmos.”Amanhã serei outro”.
Mas o amanhã saberá ao mesmo. A “ontem”.
Vivem pessoas no mesmo mundo que o meu com uma coragem extraordinária,lições de vida...Príncipes de sangue incolor,tocadores de piano...gente melhor do que eu próprio alguma vez me considerarei.
Vivemos com o peso da própria vida ás costas, e ainda assim cabe-nos uma ou outra no bolso.Somos cegos, e gostamos...dói-nos menos.
Queremos salvação vinda do céu, quando já tanta merda fizemos em terra.Zangamo-nos com Deus, queremos que nos pare com sofrimento, ou que faça alguém sofrer também...para que nos deixemos de sentir sós.
Deus assusta-me.E a sua ausência também.
Não me fascino pela Fé,nem pela falta dela...Creio na vida,e na morte, sem interesse por qual chega primeiro.
A minha vida vivê-la-ei hoje, com todo o sofrimento a que tenho direito.
Sem vergonha, mas com respeito, sem vaidade, mas com orgulho.
E sorrirei.
Amanhã o dia estará vivo.










E eu com ele .

Tuesday, March 4, 2008

Amores Loucos










*

Barcelona



Seria inevitável o (re)começo deste Blog, sem falar disto. São experiências maiores que nós próprios, e tentar passar para aquí tudo o que o vivi nos últimos 6 meses da minha vida, seria injusto quer para mim, quer para todos aqueles com que partilhei esses momentos.
Carrego hoje no corpo, as lembranças de todas as horas em que me senti no topo do mundo...
Todas as vezes em que parei,sorri, e perguntei a mim próprio se merecia tudo aquilo...todos os abraços, todas as lágrimas...
É surreal a forma como nos pode marcar algo assim tão curto...mas marca.
Chega a ser rídicula a forma como recordo Barcelona.
Não sinto falta dos bares,das lojas...da Universidade do tamanho do mundo. Não sinto falta do Glamour das ruas, do perfume das mulheres... Não sinto falta do tráfego louco, das motas, das cores, das motas ás cores... Não sinto falta do absinto, do chocolate quente, das underground stores, das casas de tatuagens, da calçada suja, das ruas de muita luz...
Sinto falta de mim próprio...em todos esses momentos. E em outros.
Sinto falta do Mp3 mais alto que eu mesmo, a ruir me os ouvidos.
-“João onde vais?”
-”Sei lah. Para aí...”
Sinto falta das noites estranhas, das pessoas estranhas...de eu próprio me sentir um estranho. Sinto falta do cheiro a “ontem” da cozinha, das conversas cruzadas em que em tudo se falava menos em português...sinto falta de ouvir o meu hino...e de quase chorar.
Devo a muita gente tudo isto que passei.
Só um presente como o que vivo agora, me pode fazer sorrir, depois tudo o que vivi...
E faz.
Estou feliz por estar de volta.



Um dia...”voltarei” para lá.









P.S: Ainda hoje quando adormeço...parece que me oiço a rir.