Sunday, May 22, 2011

Crónica ao acaso I



"Sair à noite sozinho é novo preto", disse-me alguém em quem confio muito.
A última grande moda.
Duvido sempre das modas. E resolvi ir comprovar por mim próprio.
Lisboa foi, como sempre, o palco. O sítio, conhecido como poucos.
O melhor casaco. Os sapatos certos.
Quilos de perfume.
Entrar sozinho foi já de si humilhante.
-"Boa noite, quantos são?".
-"Sou só eu".
O senhor que estava à porta, "simpático" como costumam ser todos, deixou-me entrar em grandes perguntas.
Tudo estava igual desde a última vez que lá tinha estado há alguns meses.
Pouca luz, puffs coloridos e sobrelotados.
Pequenos grupos de gente bem cuidada. Os senhores com as esposas na cama e senhoras com os esposos em Angola.
Um casal bem novinho aos beijos. Ela em pé, ele sentado (pudera).
Tudo normal.
Aproximo-me do balcão e peço o costume. Pela metade e com pouco gelo.
A rapariga que me atende, bonita como costumam ser as raparigas que atendem, tem um olhos do tamanho do mundo.
Morena, cabelo escuro, e uma dessas tatuagens japonesas no ombro.
-"É tudo?", pergunta.
-"Sim, vim sozinho".
-"Vens sair sozinho?"
-"Sim, é o novo preto. A última grande moda"
Ela sorriu, deu-me o meu troco e atendeu o gajo do lado.
Se com amigos era um desastre na arte do engate, sozinho sou ridículo.
Terminei o primeiro copo e pedi o segundo.
Ela sorriu de novo. Serviu-me e aproximou-se do meu ouvido.
"Se te aguentares depois deste, saio daqui a uma hora".
Eu nem queria acreditar. Um cliché enorme por certo, mas quem sou eu para discuti-lo.
Terminei o segundo copo e pus-me dali para fora.
Saí por onde tinha entrado e esperei por ela à porta a dançar a música vinda lá de dentro.
Até o DJ estava do meu lado. Van Morrison.

Well it´s a marvelous night for a moondance
with the stars up above me in your eyes
a fantabolous night to make romance...

Ela cumprimentou os senhores da porta, que me acenaram como que cumprimentando-me pelo feito.
Beijou-me como se os meus lábios fossem velhos conhecidos, e pediu-me que a levasse a casa.
Era pelo menos isso que eu esperava. Ela não apareceu.
Esperei horas e nada.



Telefonei a um amigo, e pedi-lhe que me fosse buscar.