Uma amiga que fiz por aqui, disse-me ontem que chora cada vez que ouve fado.
Nunca esteve em Portugal, não conhece Lisboa nem a língua Portuguesa.
Mora do outro lado da Europa, num País onde o fado não é mais do que um corpo estranho.
Chora com Mariza , com Carlos do Carmo e Camané .
Conhece muito bem Amália.
“ What a beautiful woman no ? ” .
Diz que o fado lhe traz paz de espírito.
Uma espécie de rua escura que há muito quer conhecer.
Chora, e di-lo com orgulho.
Com aquele sorriso malandro de quem acha que fez algo de errado.
Diz que chora sempre. Várias vezes ao dia.
E que ama o meu País por isso.
O País onde nunca esteve, mas de quem sabe tanto .
O País que está a sofrer mais do que merece.
O País mais bonito que eu conheço. Sobretudo visto de longe.
O País que é, e sempre será a minha casa .
E sabe bem ouvirmos bem da nossa casa. Saber que gostam de nós mesmo com todas as nossas imperfeições.
Os ” foda-se” , os Chico-espertismos , os buzinões, as tascas cheias de vinho, dentro e fora dos copos.
Um País que carrega hoje feridas enormes.
“ Vai-se andando “? .
Espero que sim.
O nosso País não pode nunca ser um problema.
Esta espécie de fardo que carregamos no peito e que nos impede de sorrir, mesmo entre aqueles que mais gostamos.
E nós que gostamos tanto.
Um gostar que não vemos em lugar algum.
Da janela de onde agora vejo o mundo, Portugal continua lindo.
Cheio de pessoas lindas. De mulheres lindas.
Gente cheia de talento, que às vezes se perde em coisas menores e pequenos obstáculos.
Portugal pode ser pequeno demais para alguns dos nossos sonhos.
Claro.
Mas deve ser sempre um motivo de orgulho.
Eu também choro.
Mas o País mais bonito que eu conheço chora comigo.
E enquanto o puder ver da minha janela, tudo será mais fácil.
Sei que um dia estaremos juntos.
O meu amor e eu .