Monday, April 19, 2010

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Quiseram que ela fosse como todos os outros.
Serena, decidida.
Cheia de objectivos por cumprir.
Escolheram-lhe os vestidos, e os sapatos.
Deram-lhe um nome, e um propósito.
Um lugar onde chegar a horas.
Sempre.
Chamavam-lhe destino.
Ela, tinha vontades outras.
Ria-se de todas aquelas regras e frases feitas.
Achava tudo aquilo ridículo.
Chegava sempre tarde.
Nunca quis os vestidos nem os sapatos.
Vestia-se das nuvens que avistava da janela do quarto.
E era aí que passava todo o seu tempo.
Um tempo que como o nosso, foi passando.
Estava na hora.
As janelas estavam mais abertas do que nunca.
Dos vestidos e dos sapatos fez-se fogo.
Comprou uma corda e um velho livro de poemas.
E recitou-os, um por um, em frente ao espelho.
Serena, decidida.
Mas sem objectivos por cumprir.
Da corda se fez um colar.
E do fogo fez-se mais fogo .
Por todo o quarto .
Dizem que se foi para sempre e que por cá, deixou apenas cinzas.
E nuvens a passar em frente ao quarto .
Eu, guardo ainda hoje o bilhete que me deixou.





" Só se cortam as asas, a quem voa rente ao chão".