Sunday, October 25, 2009

Calme couteau


"Tenho no fundo do meu armário,
restos teus e daquela noite de inverno
em que quiseste um outro nome
e um corpo mais, juntado aos nossos .
Fica sempre qualquer coisa em nós, quando nos morre alguém de perto. Alguém á nossa porta.
Tu, que és hoje um crime e adoras a ideia, és não mais do que o pó das palavras, que dissemos um ao outro.
De nada te valeu o melhor vestido ou aquele aliciante hálito a vinho velho, que trazias em fim de tarde.
Não te valeram de nada tantos dias e tantas noites, em que o deixaste no meu quarto cada parte desse corpo, que ainda hoje admiro,desejo e recordo.
Estás longe.
E onde quer que estejas, não lamentes...


Lembras-te quando te colavas ao meu corpo e olhos nos olhos, me pedias que a teu lado, incendiasse o mundo?





Comecei por ti. "

Saturday, October 17, 2009

Do outro lado da rua


Quem me conhece, sabe que raramente usei este espaço para partilhar qualquer tipo de opinião pessoal.
Este, continua a ser o velho bloco onde deixo algumas coisas e que , por sorte,vocês gostam e acompanham .
Quem me conhece, sabe que gosto do meu País. Do País de Jorges e de Marias, nunca de Bernardos ou Madalenas .
Quem me conhece, sabe que tenho uma admiração particular por tradições, por mais "estúpidas" que possam parecer.
Quem me conhece sabe que tenho tudo menos de conservador. Que gosto da "rebeldia", do pensamento independente, das alternativas, de novos espaços, novas vontades...
Mas tenhamos calma .
Digo isto porque estou cansado desta "moda" que é quebrar tradições.
Esta "moda" de votar em não partidos,de criar movimentos ridículos baseados no marketing e nunca nas propostas, de ser "alternativo" sem ser alternativa a coisa alguma, de quebrarmos com tradições antigas que nos marcam e nos distinguem,de seguirmos um qualquer fenómeno massivo que lá no fundo nos diz tão pouco .
Nunca entrei numa tourada. Não sou grande fã de cavalos, de quintas e tenho pouca paixão ( e não me orgulho disso) pelos ambientes rurais, quintas ,montes, etc .
Isso não invalida, no entanto, o respeito que tenho pelas corridas de touros, pelos aficcionados, pelas pessoas que pagam (muito) por assistir a uma tourada.
Hoje, sem querermos perceber a sua essência, todos somos contra as touradas, contra as tascas velhas, contra as roulotes, contra as músicas portuguesas (as verdadeiras, não as criadas em laboratório para encher festivais), contra toda a rudez, repito rudez, que nos caracteriza e que a mim , pelo menos, me orgulha.
Hoje, a minha geração revê-se nas demagogias, nos Louçãs, nos fenómenos de massas, no lucro fácil, no mainstream descartável que vende mais do que o "pop lixo",tão odiado entre as intelectualidades .
Hoje, temos a possiblidade de ser marginais, de pensar diferente desses que se intitulam rebeldes e que gastam minutos de vida a assinar petições no Facebook e em sessões de conversa podre, sem qualquer conteúdo. Hoje, podemos dizer que gostamos de beber vinho em copos baços, de jantar em resorts de luxo para as baratas, onde o bife sabe a batatas e as batatas sabem a ontem .
Hoje podemos tatuar datas especiais no corpo, pessoas que amamos no peito .
Hoje, podemos dizer que o verão não tem assim tanta piada. Que é bom estar deitado a ouvir chover, que ir ao ginásio é aborrecido, que sabe melhor mijar na rua .
Hoje, podemos dizer mijar .
Hoje, podemos dizer que não temos paciência para ir ao Sudoeste, que não gostamos de tendas e mosquitos, que a cerveja á refeição sabe mal, que um carro caro é um investimento estúpido.
Hoje, podemos dizer que gostamos de Portugal, que Lisboa é bonita, que o Porto sabe-nos bem.
Hoje, podemos escrever um texto enorme e ilustrá-lo com um croquete.
Hoje, podemos ser livres e fazemos muito pouco por isso .
Sei que não estou sozinho.
Gritem, caralho .



Sim,dizer "caralho" é feio .