Friday, November 18, 2011



"O que julgas tu saber de mim, nem sequer é verdadeiro.
Menti-te claro. Como não mentir.
Estás tão acima do que esperava. És tão mais do que fiz por merecer.
O que julgas tu ser meu, não me pertence.
Nunca pertenceu claro. Como poderia pertencer.
Estás tão a meu gosto. És tão mais do que eu."

Monday, November 14, 2011

Ana Rita Clara



É estranhamente confortável escrever sobre Ana Rita Clara.
Escrever sobre Ana Rita Clara é escrever sobre todos nós, os que nunca tivemos uma.
Voltar atrás no tempo. Relembrar tudo.
As borbulhas.Os fracassos todos.
Escrever sobre Ana Rita Clara é escrever sobre mim próprio. Sobre as
cartas de amor que foram ficando no meu bolso.
Escrever sobre Ana Rita Clara é perverso, mas carinhosamente
ternurento.
Quase romântico.
Ana Rita Clara é tudo ao mesmo tempo.
Ana. Rita. Clara. Três maldições numa.
Qualquer uma capaz de nos partir a vida ao meio. Um erro tremendo.
Uma estúpida noção de perfeição.
Ana Rita Clara é a melhor das mortes. Serve-se com Bourbougne.
Minuto e meio de Van Morrison.
Não antecipes o refrão. Espera que o faça, e acompanha-a.
Ana Rita Clara é a miúda do banco da frente.
O sorriso de menina que não deveria ter um dono.
Os olhos pequenos. Perfeitos.
O melhor dos fins.
Escrever sobre Ana Rita Clara é perverso, mas carinhosamente ridículo.
Quase patético.
Uma estúpida noção de infantilidade.
Não querer crescer nunca.
Ana Rita Clara é o melhor dos destinos. Serve-se com a sorte necessária.
Minuto e meio já seria perfeito.
Não antecipes nada. Espera que esteja distraída e quem sabe tenhas sorte.
Oferece-lhe os teus apontamentos.
Volta atrás no tempo. Relembra tudo.
Chama-lhe Ana. Rita. Clara.
Diz-lhe que é tudo ao mesmo tempo.
Que o seu sorriso não deveria ter um dono.

E que é estranhamente confortável escrever sobre isso.

Tuesday, November 8, 2011

10-2011



Não há nada em Rita que Mário desconheça.
Conheceram-se novos. Cresceram juntos.
Partilharam.
Não há nada em Rita que Mário desconheça.
Os seus gostos. Os seus medos.
O prato favorito. As paranóias todas.
Rita é uma pessimista. Trabalha muito. Queixa-se ainda mais.
Acha que o mundo vai rebentar. Que tudo é injusto.
Que assim, seja o assim o que for, as coisas não vão para a frente.
Mário ri-se disso. Não há nada em Rita que Mário não suporte.
Diz-lhe que não se preocupe. Que podia ser pior.
Não há nada em Rita que Mário desconheça.
As datas importantes. A alergia a marisco.
O péssimo gosto para acessórios.
-“Viste os meus brincos?”
-“Não, não...”
Conheceram-se novos. Cresceram juntos.
Descobriram-se. Ensinaram-se.
Separam-se.
Mário precisou de tempo. Rita quis conhecer Londres.
Conheceram. Cresceram.
Descobriram. Aprenderam.
Reencontraram-se.
Rita é uma realista. Trabalha menos. Disfruta mais.
Acha que só se vive uma vez. Que tudo tem o seu tempo.
Que o futuro, aconteça o que acontecer, vai ser futuro.
Mário ri-se. Diz-lhe que a quer muito. Embora tenha pouco tempo.
Mário é ocupado. Viaja muito. Dedica-se cada dia mais.
Gostava que o dia tivesse mais horas.
Rita não se importa.
Não há nada em Mário que não suporte.
Diz-lhe que não se preocupe. Que vai esperá-lo sempre.
E que lhe devolva os brincos que escondeu.