Sunday, February 20, 2011

Sedoxil


Perder alguém de quem se gosta dói muito.
Dói sempre.
É uma janela que fechaste para sempre,e não há copo ou companhia que mude isso.
Tens os teus amigos, tens o teu trabalho, e tens o tempo claro, que esperas que cure tudo.
E que por vezes cura.
Perder alguém de quem se gosta é uma merda.
Um vazio incrível. Um mundo de sonhos e planos que te escapam por entre os braços.
A sensação que nos perdemos a nós próprios. Um medo imenso.
Saudades, claro.
E recordações que também são feridas.
Vidros partidos espalhados por todo o lado.
Perder alguém de quem se gosta é todo um mundo novo.
Cinzento. Triste.
Um silêncio assustador.
Um ferro que te encostam ao peito, enquanto te arrancam da carne a pessoa que foste durante todos estes anos.
E com essa pessoa, a outra. A que julgavas ter por perto o resto da tua vida.
Perder alguém de quem se gosta é aprender a caminhar de novo.
Devagar e a medo.
Um dor que se disfarça mal.
Podes vingar-te na bebida ou nos prazeres que abdicaste ao longo destes anos.
Estudas música, viajas muito, compras um fato novo.
Continuas a perder peso, e paciência para as pessoas.
Não queres estar parado.
Gastas dinheiro de forma inútil, exageras no exercício físico.
Manténs-te sempre ocupado.
Até que um dia, ao sair de casa, vais esquecer-te da tal janela aberta.
Deixar que a vida, aos poucos, te entre pelo quarto.
O mundo vai perdendo os tons de cinzento.
E levará com ele todo aquele silêncio.
Terás o quarto e o coração cheio de pessoas.
Aquelas que sempre estiveram por perto.
E as que, pouco a pouco, te entraram pela janela dentro.

Friday, February 4, 2011

Plus d'une erreur


Não faz qualquer sentido.
Porquê eu? Não posso ser eu.
Como não sabe explicar?
Tem de saber explicar.
Ter-me escolhido foi para além do seu maior erro, a coisa mais bonita que me aconteceu na vida.
Sempre falhei demasiado. Desde miúdo.
Nunca marquei golos e era sempre o primeiro a ser encontrado.
“1,2,3 este nunca salva ninguém".
Médio na escola,
demasiado distraído,
o último da fila no bate-pé.
Os bolsos sempre cheios de sonhos.
Tenho um carro velho.
Uma máquina que faz um café horrível.
Gosto de coisas que nem te interessam.
Não faço a barba,
não passo calças a ferro,
detesto musicais.
Detesto pesca também,
e o teu pai odeia-me por isso.
Sei que foi ele que me deitou o livro ao rio.
“Poesia não enche o peito a ninguém!”
Tenho um emprego vulgar,
pernas demasiado estreitas,
e sou, sem dúvida, o mais feio dos meus amigos.
Sou terrível com datas,
não conheço ninguém famoso,
nunca fui a Nova Yorke,
fico cheio de sal no nariz quando como as batatas do pacote.
Sou péssimo a demonstrar ciúmes,
nunca adivinho o teu perfume,
bebo água directamente do jarro,
e passo a vida a esquecer-me de dizer o quão linda estás de manhã.
Não vou ser promovido em breve, e tu não queres nem saber.
Não te importa o que bebo ou tomo.
Carregas-me sempre sobre esses teus ombros pequenos, seja qual for o destino.
E ao deitar, se estou cansado e adormeço enquanto me contas como foi o teu dia, tu sorris.
Sorris sempre.



E guardas as tuas histórias para amanhã.